Espelho, espelho meu
As páginas brancas não me assustam mais, por que decidi que não tenho mais a necessidade de agradar ninguém (talvez minha mãe e olhe lá, e mesmo assim eu falho). Escrever tem sido uma extensão da terapia e do meu braço comprido e fino. Ajuda os pensamentos aleatórios a passarem feito vento e acabo me desfazendo de angústias, de pesos, de culpas (minhas ou as que invento), ajuda a espantar o ócio das férias que me permiti e transformá-lo num ócio criativo que me nutre. Engraçado que agora tudo que penso vem em forma de texto, mesmo sem colocar pra fora. Acho que foi uma maneira que encontrei de organizar o caos da mente, assim ela não me domina e não mente tanto pra mim. Cansei de ser enganada por mim mesma, pelas conclusões que minha ansiedade formula e muitas vezes se tornam reais aqui dentro sem nem chegarem a ser de verdade. Nem tudo é bom e nem mal o tempo todo, mas a posição de vítima faz a gente concluir que estamos cercados e jogar a culpa no mundo é menos penoso do que admitir que o grande inimigo somos nós mesmos. A loucura, a impetuosidade, os devaneios, fazem as pessoas se isolarem em mundos particulares, inventados, mas não olha pra si. Muitos entram em mundos tão sólidos que não voltam mais à realidade, por que ela dói muito. É mais fácil deitar na cama e se lamentar por dias e dias, intermináveis e insones. Já tive épocas em que fugia até do espelho, por que não acreditava no meu reflexo, não parecia ser eu. Era uma sensação de descolamento daquele 'eu' que eu conhecia, que envelhecia e eu não conseguia acompanhar por vergonha de mim mesma. Era melhor não se ver. Mas aquele rosto era meu, sim. Nos últimos tempos conheci muitas personas minhas, algumas muito assustadoras, fugi da minha essência, olhando cada vez menos no espelho e tendo atitudes que jamais imaginei nem nos meus sonhos mais estapafúrdios. Depois vivia momentos horríveis de auto comiseração que acabavam em depressão profunda. Personas são criadas por todos, todos os dias, mas elas não são reais. Quem é de verdade não precisa de persona. Mas o que é 'ser de verdade'? To aprendendo com cada pensamento que vem e vai, cada livro que leio e cada vida que passa na minha frente. Observo. Olho pra dentro e vejo o que aquela criança do século passado queria de forma tão espontânea e objetiva. Crianças são muito objetivas e observadoras. Resgatar a criança faz a gente entrar em contato com aquilo que fugimos a vida inteira quando adultos, por que o mundo é cruel e nos reprime. Buscar entender a nossa trajetória é um passo para o auto perdão, auto acolhimento, para o amor-próprio e da liberdade de ser quem se é, sem medo. Estou longe ainda, mas permaneço na busca, as frases vão ajudando aos poucos, e tenho feito frases tão curtas quanto um sonho bom.
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